segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Cena 47

Zuummmmmm...

Se encontra numa sala vazia. “zuumm..” é o barulho que anuncia sua chegada naquele lugar, porque todas as coisas guardam um som característico quando existe ao menos um ouvido lhes dirigindo atenção. Sua chegada, com efeito, é um evento tanto quanto a sua permanência lá, que é o que se quer, em todo caso, anunciar: Está lá.

Quem é? Que lugar é esse? Qual o próposito da apresentação deste instante?

Craac. Mais uma onomatopéia tangindo a presença invisível de movimentos e ações que não foram descritos. Quebra alguma coisa com as mãos enquanto ali dentro procura por algo. Há um objeto, ainda que vago, e algo que é somente uma suposição (um desejo, intuição ou um objetivo).

O processo se repete uma centena de vezes em apenas alguns minutos. Em todo esse tempo, há uma presença, movimentos inúmeros e muita indefinição. Encontra-se, no entanto, aqui e ali imagens conspícuas. Encontra-se também respostas, cada uma delas escritas em minusculas fitas de papel como que oferecidas na medida incerta da sua aceitação. São, sobretudo, tautologias inquestionáveis, pois são o que são e apenas na medida incerta da sua aceitação.

“Algo maravilhoso irá acontecer a partir daqui!”

Não se trata de mero otimismo, contudo. A mensagem recorta no tempo uma linha difinitiva: nada mais é o mesmo; o que existia antes parece agora se distinguir do que virá a existir, pois, a partir daqui, existe um campo de coisas boas possíveis, de coisas boas prováveis. Algo tão vago quanto o objeto da busca das mãos que golpearam, querendo ali dentro encontrar apenas.

Sssssssssss....

Ressoa baixinho quase como o próprio silêncio, pois naquela sala vazia esse é o som de um pensamento não revelado após outro, e outro. Mas ao redor de cada um deles, paira agora esse belíssimo campo de maravilhosas possibilidades, ininterruptamente.

Não se conhece o futuro, mas o presente é instante perfeito para se receber boas-novas, ainda que não se tenha a menor ideia do que são ou serão; e mesmo na mais plena desconfiança de que venham mesmo a ser.